"Por qué no te callas?" foi uma frase que ficou celebre, mas já antes de o ser devia passar muitas vezes pela cabeça dos treinadores quando nós, pais, "berramos" cheios de boa vontade "chuta" "passa" "recua" "avança" "cruza" "olha o Manel" "desmarca-te" etc, etc, etc...
É claro que todos o fazemos com a melhor das intenções, porque achamos que de fora temos uma melhor visão, porque achamos que "sabemos mais" que os meninos. E todos fazemos isso em alguma altura. Eu não me considero das "mais gritadoras" até porque a posição do meu "rebento" não é propicia a grandes indicações ... quando ele falha, "já era", não vale a pena gritar que é irremediável. Mas assim de repente lembro-me de duas vezes em que gritei alto e bom som - esta epoca no jogo com o Amarante em que eu achei que precisavam de incentivo para atacar e uma vez na epoca passada (o prof Carlos ainda se deve lembrar) em o Nuno descobriu a vocação para avançado centro a meio de um jogo e quando olhámos ..ia no meio campo, a dar toquezinhos na bola, perante a total passividade das duas equipas...! Isto como introdução ao facto de que todos o fazemos e provavelmente nunca consiguiremos deixar de o fazer... mas como isto pode ser frustrante e problemático para um treinador.
Vou voltar a recordar o prof Humberto que disse: "esteja o barulho que estiver, esteja o publico que estiver, um jogador (referindo-se aos nossos meninos) reconhecerá sempre a voz do pai que lhe der uma indicação e terá tendencia a segui-la".
Ora relembrando o que falámos sobre o sistema de treino e a constituição de padrões, uma indicação destas pode dar cabo do trabalho de muito tempo de treino. Porque todo um modelo, um padrão que foi desenhado numa determinada sequencia é alterado se um dos jogadores "chuta", "passa" ou "desmarca-se" seguindo as indicações do pai (ou mãe, evidentemente) e vez de seguir o que estava previsto. Tudo o que vier a seguir já vem fora do Plano de Jogo.
Voltando aos nossos exemplos da vida real e ás nossa idas frequentes ao Vitalis, vamos imaginar que temos um percurso pre-defenido, que seguimos sempre. Um dia, ao passarmos pela porta de um café, um colega grita e convida a entrar para um copo. Foi criado um desvio ao padrão e mesmo sem querer, durante uns tempos quando por lá passarmos espreitamos para ver se ele lá está. O mesmo acontece com os nossos rapazitos, quando um padrão lhes é "interrompido" por uma indicação do pai - não só acontece nesse momento como futuramente quando a situação se repetir ele vai ficar "à espera" que o pai grite algume coisa.
É por estas e por outras que os treinadores do Vilalis, maioritariamente rapazes novos, estão quase todos com os cabelos brancos...
Claro que este menino ao modificar o padrão vai implicar que tudo o que vinha a seguir seja alterado.
Para fundamentar estas teorias, vamos recorrer mais uma vez a algumas citações do trabalho do Prof Carlos:
" ... Segundo este mecanismo os sinais recebidos do meio ambiente mobilizam certas vias neuronais que intervêm na motivação e/ou no prazer da recompensa" - ora que maior recompensa pode haver para uma criança do que a aprovação do pai, ao fazer o que ele diz?
".. Da mesma forma como o organismo tende a procurar o prazer e evitar a dor, tentará atingir esses fins em situações sociais. Os marcadores somáticos dependem da aprendizagem, associando determinados tipos de entidades ou fenomenos a situações agradaveis ou desagradaveis" ... "... a maioria dos marcadores somáticos foi criada nos nossos cérebros durante o processo de educação e socialização, pela associação de estimulos a estados emocionais"
Lá está. Eles - os nossos rapazinhos - embora com a tal memoria construída de como deveriam jogar, recebem o estimulo exterior da nossa voz e seguem-no, em busca da recompensa, a nossa aprovação. Tudo isto é feito a um nivel quase inconsciente e eles têm depois noção que erraram, pois nós chegámos a comentar que os meninos diziam "eu fiz o que tu disseste, mas não é isso que o treinador quer".
Para realmente a equipa "funcionar", tem que ser seguido o plano, o padrão que foi desenhado, sem interferencias (nós, que vergonha). Vamos mais uma vez ver o que é dito pelo prof Carlos sobre o funcionamento em equipa e como equipa, antes de dar-mos por encerrado este capitulo que não é muito abonatório para os assistentes - na próxima epoca vou comprar adesivo, ou qualquer coisa para me manter calada.
" A construção de uma equipa na verdadeira acepção da palavra em que todos participem da mesma linguagem comportamental deve-se em grande parte à liderança do treinador e ao modo como este transmite a sua ideia de jogo"
Então, meus amigos, vamos deixá-los trabalhar (tenho ideia que já alguém tinha dito isto..."deixem-me trabalhar!" não foi?)
Abraços e até à próxima
Nâo deixo de ficar surpreendido, quanto à abordagem de temas sem dúvida com interesse, em que ao fazermos uma pequena reflexão, vemos que já está tudo de alguma forma estudado e sem explicar outra forma, cá vamos nós para uma nova época,com os mesmos defeitos e virtudes.
ResponderEliminarTIRO-LHE O CHAPÉU SUSANA
OS MEUS PARABÉNS BJS TÉTÓ
Obrigada, amigo Zétó. É o vosso apoio, a vossa amizade e o vosso carinho que "alimentam" a minha vontade em continuar a fazer o que posso para que o nosso cantinho seja interessante.
ResponderEliminarJá que estão a gostar, vou continuar a colocar mais algumas reflexóes, para nos "entreter" nas férias. Mas preciso de adiantar mais a minha leitura porque se o livro do Prof Carlos se lê bem, o do Prof Maciel já leva o seu tempo, que pesa quase tanto como eu - o que não é dificil, eu sei.
Beijocas a todos (tenho saudades dos meus meninos!)
Susana